Gaspar Nicolas e os 500 anos do Tratado da Pratica d’Arismetica (15 de novembro de 1519)

Resumo

Comemora-se em 2019 (15 de Novembro) os quinhentos anos do Tratado da Pratica d’Arismetica de Gaspar Nicolas. Esta obra foi o primeiro tratado de aritmética prática de autor português publicado em Portugal. Pertence a um conjunto de livros que entraram em cena numa época marcada por uma vontade de perpetuar na forma escrita o conhecimento outrora transmitido oralmente. Para esta mudança contribuíram a emancipação das línguas vernáculas relativamente ao latim e a eclosão da imprensa. O tratado insere-se ainda numa época de grande desenvolvimento comercial, com necessidades de modelos, para programar os grandes negócios associados à expansão marítima e comercial, utilizando algoritmos apoiados na vulgarização do cálculo com os números indo-árabes. À semelhança de outras obras para o mesmo fim, o tratado de Gaspar Nicolas refere alguns pontos de negócio e trata problemas ligados ao «Novo Mundo». São exemplo disso os enunciados sobre o negócio de especiarias com as respetivas quebras na mercadoria devido às más condições das viagens, uma realidade sentida por navegantes e mercadores. O Tratado da Pratica d’Arismetica aborda ainda temas «clássicos», tais como, como as progressões, raízes quadradas e cúbicas, os problemas para determinar números, entre outros que, embora desligados do mundo mercantil, assumiram um lugar de destaque no saber matemático da época. Estes temas estão associados a processos calculatórios, contudo, apresentam esboços de um ideal muito próximo do pensamento matemático. O conhecimento dos algoritmos das operações básicas e a consolidação da sua prática através de problemas é uma vertente de importância didático-pedagógica crucial e está presente no tratado e nas preocupações de bem ensinar do seu autor. Na obra destacam-se três princípios: realizar a transcrição do conhecimento oral  para o escrito,  explorar as vantagens da matemática calculatória, algorítmica e comercial, introduzir temas matemáticos que aparentemente nada têm a ver com os aspetos comerciais.