As Classificações das Matemáticas de John Dee e Adriaan Van Roomen: Um Estudo Sobre a Organização dos Conhecimentos Matemáticos nos Séculos XVI e XVII

Autores

DOI:

10.47976/RBHM2021v21n4252-80

Palavras-chave:

História da matemática, Classificações, Traduções, John Dee, Adriaan van Roomen

Resumo

Pesquisas em história da matemática têm como um de seus pressupostos reconhecer que a área de conhecimento que temos hoje não é a mesma daquelas disciplinas ou ciências consideradas como matemáticas no passado. Nesse sentido, este artigo objetiva apresentar um estudo sobre o que são as matemáticas nos séculos XVI e XVII, trazendo um olhar para algumas das classificações propostas neste período. Para tanto, são apresentadas traduções de excertos de duas obras: o diagrama do prefácio aos Elementos de Euclides, de John Dee, e um capítulo da Universae mathesis idea, de Adriaan van Roomen. Esses tratados mostram que havia, entre alguns estudiosos, uma preocupação em organizar o conhecimento científico do período, classificando como matemáticas não só as artes liberais do quadrivium, mas diversas outras artes teóricas e práticas. Embora as concepções e o pensamento matemático daquele momento tenham conexões com pensamentos da Antiguidade e dos medievais, percebemos, na verdade, que compreender o conhecimento matemático dos séculos XVI e XVII se mostra como algo complexo na medida em que as classificações são controversas e não consensuais. Os trabalhos de Dee e de van Roomen nos mostram algumas destas concepções presentes entre os matemáticos do período.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Zaqueu Vieira Oliveira, Universidade Federal da Integração Latino – Americana – UNILA – Foz do Iguaçu – Brasil

Atualmente é professor visitante no Instituto Latino-Americano de Ciências da Vida e da Natureza (ILACVN) da UNILA. Possui pós-doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Ensino e História das Ciências e da Matemática da UFABC (2018-2020), doutorado em Educação Matemática pela UNESP (2015) com estágio de pesquisa na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (2014), mestrado também em Educação Matemática pela UNESP (2011), graduação em Licenciatura em Ciências da Natureza pela USP (2009) e foi bolsista FAPESP (2008-2015) e PNPD-CAPES (2018-2020). Foi professor contratado da Faculdade de Educação da USP (2015-2017 e 2018-2021), do SESI-SP (2018), da UNIVESP (2019) e esteve no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (2017) para realização de estágio de pesquisa. Os seus projetos de pesquisa têm como foco a História das Ciências, História da Matemática e História da Astronomia nos séculos XVI e XVII, assim como suas relações com o Ensino de Ciências e de Matemática. É membro do Grupo de Pesquisa em Interfaces entre História das Ciências e Educação Científica (GIHCEC) da UFABC e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etnomatemática (GEPEm) da FE-USP. 

Isabelle Coelho da Silva, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP – São Paulo – Brasil

É Mestra em Ensino de Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (PGECM/IFCE). Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), com período sanduíche na Universidade de Pittsburgh. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino de Matemática, atuando principalmente nos seguintes temas: história da matemática, educação matemática e formação de professores. É membro do Grupo de pesquisa História e Epistemologia na Educação Matemática (HEEMa) e do Grupo de Pesquisa em Educação e História Matemática - GPEHM. Atualmente, faz parte da Diretoria da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM), regional Ceará e é doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Kleyton Vinicyus Godoy, Universidade Federal de Lavras – UFLA – Lavras – Brasil

Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Metodista de Piracicaba (2007). Mestrado (2013) e Doutorado (2019) pelo Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Campus Rio Claro. Atualmente é Professor Visitante do Departamento de Educação em Ciências Físicas e Matemática na Universidade Federal de Lavras - MG. Atuou na área de matemática e ciências da natureza tanto na rede pública e privada como professor do Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos (EJA), Ensino Técnico e Ensino Superior. Tem interesse de estudo na área de Matemática e Educação Matemática, com ênfase em Teoria dos Invariantes, Educação Matemática e Sociedade, Filosofia da Matemática, Classificação das Matemáticas e História da Matemática, atuando principalmente nos seguintes temas: História da Matemática dos séculos XV a XIX; História da Educação Matemática e História da Matemática e Ensino de Matemática. 

Referências

ALMEIDA, Bruno. 2012. On the origins of Dee´s mathematical programme: The John Dee – Pedro Nunes connection. In: Studies in History and Philosophy of Science. Elsevier. Vol. 43, 460–469.

ALSTED, Johann Heinrich. 1630. Encyclopaedia septem tomis distincta. Herborn: George Corvini.

APOMECOMETRIA. 2021. In: Dicionário Michaelis. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=apomecometria> Acesso em: 4 jul. 2021.

ARISTÓTELES. 1995. Categorias. Tradução de Ricardo Santos. Porto: Porto Editora.

BACON, Francis. 1605, 2007. O progresso do conhecimento. Tradução, apresentação e notas Raul Filker. São Paulo: Editora Unesp.

BENNETT, Jim. 2013. How relevant is the category of ‘mixed mathematics’ to the sixteenth century? In: From “Mixed” to “Applied” Mathematics: tracing an important dimension of mathematics and its history. Oberwolfach report. 677–680.

BERTATO, Fábio Maia; D'OTTAVIANO, Ítala Maria Loffredo. 2007. Luca Pacioli and the 'Controversy of the Perpective': the classification of the mathematics from classical antiquity to the end of quattrocento. In: Revista Brasileira de História da Matemática, Especial nº 1 – Festschrift Ubiratan D’Ambrosio, 505–525.

BIAGIOLI, Mario. (1989). The Social Status of Italian Mathematicians, 1450-1600. History of Science, vol. 27, nº 1, 41–95.

BILLINGSLEY, Henry. 1570. The elements of geometrie of the most auncient Philosopher Euclide of Megara. Londres, John Day.

BOCKSTAELE, Paul Petrus. 1966. Roomen (Romanus, Romain), Adriaan (Adrianus) van. In: Nationaal Biografisch Woordenboek. Bruxelas, Paleis der Academiën, vol. 2, 751–755.

BOGNOLO, Marco. 1839. Panlessico Italiano. vol. 4. Veneza: Girolamo Tarso.

BOSMANS, Henri. 1907. Romain (Adrien). In. Biographie Nationale, vol. 19, 848–889.

BROMBERG, Carla. 2010. As Artes Liberais entre o Medievo e o Renascimento. In: M. H. R. Beltran, F. Saito, & L. S. P. Trindade. (Eds.). História da Ciência: tópicos atuais 2. São Paulo: Editora Livraria da Física. 11–31.

BROMBERG, Carla. 2011. Identificando Parâmetros para as Classificações das Ciências Liberais e Mecânicas no Renascimento Italiano. In: Anais do Congresso Scientiarum Historia IV. Rio de Janeiro: HCTE-UFRJ. 184–190.

BROWN, Gary I. 1991. The Evolution of the Term “Mixed Mathematics”. In: Journal of the History of Ideas, vol. 52, 81-102.

CAROLINO, Luis Miguel. (2007). Cristoforo Borri and the epistemological status of mathematics in seventeenth-century Portugal. In: Historia Mathematica. vol. 34, nº 2. 187–205.

DARNTON, Robert. 1986. O grande massacre dos gatos, e outros episódios da História Cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal.

DEAR, Peter. 2001. Revolutionizing the Sciences: European Knowledge and Its Ambitions, 1500-1700. Wales: Creative Print & Design.

DEE, John. 1570. Mathematicall Praeface. In: BILLINGSLEY, Henry. The elements of geometrie of the most auncient Philosopher Euclide of Megara. Londres: John Day.

DE SMET, Antoine. 1990. Gérard Mercator (1512–1594) et les sciences occultes. In: Scientiarum Historia. vol. XVI, nº 1–2, 5–10.

ESTRATARITMETRIA. 1793. In: Diccionario Castellano con las voces de ciencias y artes y sus correspondientes en las tres linguas francesca latina e italiana, vol. 4. Estevan Terreros y Pando.

GONÇALVES, Carlos Henrique Barbosa. 2012. A álgebra no século XVI. In: A. Muhana, M. Laudanna & L. A. Bagolin. (Orgs.). Retórica. São Paulo: Annablume. 31-43.

GONÇALVES, Carlos Henrique Barbosa; OLIVEIRA, Zaqueu Vieira. 2007. Geometria, Reforma e Contra-Reforma na Carta de 1 de julho de 1597, de Adriaan van Roomen para Clavius. In: Circumscribere. Vol. 3. 11–19.

GONÇALVES, Carlos Henrique Barbosa; OLIVEIRA, Zaqueu Vieira. 2010. A atividade matemática de Adriaan van Roomen. In: Revista Brasileira de História da Matemática. vol. 10, nº 20, 147–164.

GULLBERG, Jan. 1997. Mathematics: from the birth of numbers. New York: W. W. Norton.

HARROD, Henry. 1874. Report on the Deeds and Records of the Borough of King's Lynn. London: Thew & Son.

HIPSOMETRIA. 2021. In: Infopédia. Porto: Porto Editora. Disponível em <https://www.infopedia.pt/$hipsometria>. Acesso em: 3 julho 2021.

HOLLAR, Wenceslaus. 1669. The Groundplat of Kanton. London (Acervo do Museu Britânico). Disponível em: <https://www.britishmuseum.org/collection/object/P_1855-0512-189>. Acesso em: 19 maio 2021.

JARRETT, Joseph. 2019. Mathematics and Late Elizabethan Drama. Cambridge: Palgrave Macmillan.

KAWAJIRI, Nobuo. 1979. Francis Bacon´s View of Mathematics – Bacon concept of Mixed Mathematics. Proceedings of the Faculty of Science. vol. XV. Tokai University.

KNOBLOCH, Eberhard. 1989. Klassificationem. In: M. Folkerts (Ed.), Mass, Zahl und Gewicht – Mathematik als Schlüssel zu Weltverständnis und Weltbeherrschung. Weinheim: VCH, Acta Humaniora. 13–40.

MANDERS, Keneth. 2006. Algebra in Roth, Faulhaber, and Descartes. Historia Mathematica. n. 33. 184–209.

MOTA, Bernardo Machado. 2007. The Status of Mathematics in Portugal in the 16th-17th Centuries. HoST Journal of History of Science and Technology. vol. 1, pp. 183–194.

OLIVEIRA, Zaqueu Vieira. 2015. Uranografia ou a descrição do céu de Adriaan van Roomen. Coleção CLE. vol. 69. Campinas, Unicamp, Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência.

OLIVEIRA, Zaqueu Vieira; HADDAD, Thomas Augusto Santoro. 2018. Adriaan van Roomen e sua Correspondência: desafios e controvérsias matemáticas no século XVI. In: Revista Brasileira de História da Matemática. vol. 18, nº 36, 77–115.

PALKOSKA, Jan. 2007. The a priori in the Thought of Descartes: cognition, method and science. Cambridge: Cambridge Scholars Publishing.

RABOUIN, David. 2005. La “mathématique universelle” entre mathématique et philosophie, d’Aristotle à Proclus. Archives de Philosophie, n. 68. 249–268.

RABOUIN, David. 2009. Mathesis Universalis: l’idée de “mathématique universelle” d’Aristotle à Descartes. Paris: Presses Universitaires de France.

RAMPLING, Jennifer M. 2012. John Dee and the sciences: early modern networks of knowledge. In: Studies in History and Philosophy of Science, vol. 43, nº 3, 432–436, Elsevier BV. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0039368111001129?via%3Dihub>. Acesso em: 19 maio 2021.

ROMANO, Antonela. 2004. El estatuto de las matemáticas hacia 1600. In: Los orígenes de la ciencia moderna. Seminário Orotava de Historia de la Ciencia. Actas de los años XI y XII. Canarias: Consejería de Educación, Cultura y Deportes del Gobierno de Canarias. 277–308.

RULAND, Anton. 1867. Adrien Romanus, premier professeur à la faculté de médecine de Wurzbourg. In: Le Bibliophile belge. Bruxelas, vol. 2, 56–100, 161–187 e 256–269.

SAITO, Fumikazu. 2015. História da matemática e suas (re)construções contextuais. Sâo Paulo: Editora Livraria da Física.

SALES, Rodrigo de. 2016. Classificações bibliográficas e classificações arquivísticas: diferenças e semelhanças na organização do conhecimento. In: Scire, vol. 22, 65–77.

SALES, Rodrigo de. 2017. A Classificação de Livros de William Torrey Harris: influências de Bacon e Hegel nas classificações de biblioteca. In: Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, vol. 22, n° 50. 188–204.

SASAKI, Chikara. 2004. Descartes's Mathematica Thought. New York: Springer.

SMITH, Charlotte Fell. 1909. John Dee. In: Nature. London: Constable and Co. Ltd., 121–122.

SMITH, David Eugene. 1925. History of Mathematics: special topics of elementary mathematics. vol. 2. Dover Publications.

TABOADA, Nuñez de. s/d. Diccionario Francés-Español - Espaçnol-Framcés. Tomo I. Paris: Casa de Ch. Fouraut é Hijo.

VAN ROOMEN, Adriaan. 1591. Ouranographia sive caeli descriptio. Antuérpia: Johan-nes van Keerbergen.

VAN ROOMEN, Adriaan. 1602. Universae mathesis idea. Wurceburgo: Georgius Fleisch-mann.

VAN ROOMEN, Adriaan. 1605. Mathesis polemica. Frankfurt: Levinus Hulsius.

WEBER, Jean-Paul. 1964. Sur la Composition de la Regula IV de Descartes. In: Revue Philosophique de la France et de l’Étranger. Nº 154. 1–20.

WEISHEIPL, James A. 1965. Classification of Sciences in Medieval Thought. In: Mediae-val Studies, vol. 27, 54–90.

WOLFE, Jessica. 2004. Humanism, Machinery, and Renaissance Literature. Cambridge: Cambridge University Press.

Downloads

Publicado

17-11-2021

Métricas


Visualizações do artigo: 909     PDF downloads: 500

Como Citar

OLIVEIRA, Zaqueu Vieira; SILVA, Isabelle Coelho da; GODOY, Kleyton Vinicyus. As Classificações das Matemáticas de John Dee e Adriaan Van Roomen: Um Estudo Sobre a Organização dos Conhecimentos Matemáticos nos Séculos XVI e XVII. Revista Brasileira de História da Matemática, São Paulo, v. 21, n. 42, p. 52–80, 2021. DOI: 10.47976/RBHM2021v21n4252-80. Disponível em: https://rbhm.org.br/index.php/RBHM/article/view/357. Acesso em: 15 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos